quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Fílmicos II - Un Chien Andalou

Um cão andaluz

Não ladra,

Mia

E toca piano

Com a palma da mão

Decepada

Na caixa

Com a touca

Na cama

Da toca

Insecticida

E primaveril

Onde todos os seios

Rasgados á lua

São olhos

No cio da navalha

Que afaga

Logo corta

A nádega

Enfim

Um cão andaluz

Não ladra

Mia

E rasga

O nosso olhar.


© Vítor Reia; Em Cena, nº 7 , Verão 2003, Faro, pg. 55, (Ilustração: Marina Palácio, Ed. Paulo Penisga, Ed. Ass. Gabriela Soares)

sábado, 19 de novembro de 2011

Fílmicos I - La Caza

Reinicio aqui as lides blogueiras com a recuperação dos poemas fílmicos (na medida em que os reencontre) publicados há já alguns anos na revista Em Cena:

Terras Sauras Espanhas

Sinto o calor das terras espanhas

De sangue e ardor em doses tamanhas

De raiva e amor nas minhas entranhas

De Lorca o sabor, da caça as patranhas.

Os cães fuzilados à luz do dia

As almas rasgadas em agonia

Mataram cães, mataram poemas,

Nas terras sauras da Andaluzia.

Vejo as figuras em branco e negro

Armando armadilhas, armando o medo,

Cerrando miras de dor, de degredo,

Contando mentiras, apontando o dedo.

A Caça é Regra do Jogo,

A morte é a ferro e fogo

Nas terras sauras, as terras espanhas,

Nas terras espanhas, o logro.


© Vítor Reia; Em Cena, nº 7 , Verão 2003, Faro, pg. 54, (Ilustração: Marina Palácio, Ed. Paulo Penisga, Ed. Ass. Gabriela Soares)