Assim a modos de «message-in-a-bote-lhe» pós-FB com ambições de «massage-neo-anual» (só por causa das dúvidas, escrevi mesmo massage-neo-anual) neste repositório um pouco mais pessoal:
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Bergman, Jazz & Sexuality
Prof. Erik Hedling, from Lunds University will be speaking in a CIAC conference about Ingmar Bergman and Modernity:
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=330495840313738&set=a.208750709154919.63378.190801447616512&type=1&theater
http://www.facebook.com/photo.php?fbid=330495840313738&set=a.208750709154919.63378.190801447616512&type=1&theater
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
Fílmicos VI - Easy Rider
Este é o último fílmico, dos que foram publicados na Em Cena com ilustrações da Marina Palácio.
(© Vítor Reia; Em Cena, nº 9 , Verão 2004, Faro, pg.
54,-55 ; Ilustração: Marina Palácio, Ed. Paulo Penisga, Ed. Ass. Gabriela
Soares)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
Sometimes Ted really talks!
Nestes tempos que hoje correm, em que as troikas (ou deverei dizer tríades) nos mandam fazer o pino através das vozes dos donos da populaça muito social e muito democrata, por vezes também muito cristã e até mesmo socialista, talvez possamos aprender algo com Bunker Roy (ou até com Greg Mortenson que percorreu caminhos diferentes mas semelhantes). A questão fundamental é sempre a mesma: Educação, mas verdadeira e não falsa nem plastificada para dar e vender, sobretudo vender, a quem estiver mais à mão de endoutrinar (leia-se-a-mestrar) no credo das vãs patranhas economicistas desse senhor todo poderoso chamado mercado de todos os santos concurrenciais desde Chicago a Taipé passando por Genebra e pelas ilhas Caimão.
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
De retorno aos Fílmicos: V - Morte a Venezia
Ando na
praia a procurar
Uma outra
vida bela e boa,
Vou ao
cinema, entro num bar
E vejo a
dita sorrir à toa.
Gasto o meu
tempo a caminho
Da outra
margem para Lisboa,
Volto a
casa, entro sozinho
Na minha
cama, deito a pessoa.
Falta-me o
jeito… falta-me o ar… para procurar.
Uma outra
vida, outra garra
De herói
galante noutra fita
De amor
perdido, o barco amarra
A proa ao
cais, cai em desdita.
No escuro a
luz vem de mansinho,
Saio para a
rua, pessoa aflita,
De volta sei
o meu caminho
Para a minha
toca hermafrodita.
Noite
desdita… dita o olhar… para me encontrar.
De manhã
cedo, pausa breve
Num outro
cais, num outro bar
Onde a dita
vogando serve
Cinemascópio
a ver o mar.
Gasto os
meus dias em viagem,
Não tenho
tempo para viajar,
Morro por
fim nesta outra margem,
Pouso os
meus restos no vosso altar.
Morro em Veneza…
morro ao luar…
À beira-mar
... à beira-bar ... à beira…
© Vítor Reia; Em Cena, nº 9 , Verão 2004, Faro, pgs.
56-57 (Ilustração: Marina Palácio, Ed. Paulo Penisga, Ed. Ass. Gabriela
Soares)
domingo, 11 de dezembro de 2011
Continuação do Interregno necessário, por motivos ainda mais óbvios, dos Fílmicos:
Desta vez com o alerta do meu amigo e colega Juan Antonio García Galindo
É certo que o Manuel Castells escreveu isto antes da última cimeira europeia (uma espécie de última ceia franco-alemã em que os britânicos cumpriram o papel predeterminado de judas, esse malandro) e a data apontada para o apocalipse financeiro (9/12/2011) não se cumpriu, pelo menos inteiramente, mas também é bem certo que a capacidade de análise de Castells é reconhecidamente superior e mais abrangente do que a da grande maioria dos comentadores político-financeiros, oficiais e oficiosos, com que os media - qual quarto poder qual quê, qual cão atento de vigia e de alerta, mas na generalidade tão somente cães de fila e de guarda dos poderes instalados - nos brindam todos os dias e a todas as horas, num verdadeiro atestado de menoridade e de insuficiência mental e cívica que nos é passado continuadamente sem peias nem escrúpulos:
http://redconvergenciasocial.org/?p=99&utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook
sábado, 10 de dezembro de 2011
Interregno necessário, por motivos óbvios, nos Fílmicos:
Foi o José Duarte que me chamou a atenção para este assunto (texto de Isabel do Carmo, médica e não só) sobre este país onde também vivi e não gostei nada, pelo que até me fui embora ... logo, subscrevo de igual modo. E embora não me pareça que isto tenha que dar em mais uma petição (já andam por aí muitas - mas só uma é que foi directamente para o «Lord, with prayer») quem sabe se isto não pode dar em manifesto e de manifesto em algo mais consubstanciado?
«Assunto: Já vivi nesse país e não gostei. Eu também vivi neste país e subscrevo»
- José Duarte -
JÁ VIVI NESSE PAÍS E NÃO GOSTEI - por Isabel do Carmo (médica)
« O primeiro-ministro anunciou que íamos empobrecer, com aquele desígnio de falar "verdade", que consiste na banalização do mal, para que nos resignemos mais suavemente. Ao lado, uma espécie de contabilista a nível nacional diz-nos, como é hábito nos contabilistas, que as contas são difíceis de perceber, mas que os números são crus. Os agiotas batem à porta e eles afinal até são amigos dos agiotas. Que não tivéssemos caído na asneira de empenhar os brincos, os anéis e as pulseiras para comprar a máquina de lavar alemã. E agora as jóias não valem nada. Mas o vendedor prometeu-nos que... Não interessa.
Vamos empobrecer. Já vivi num país assim. Um país onde os "remediados" só compravam fruta para as crianças e os pomares estavam rodeados de muros encimados por vidros de garrafa partidos, onde as crianças mais pobres se espetavam, se tentassem ir às árvores. Um país onde se ia ao talho comprar um bife que se pedia "mais tenrinho" para os mais pequenos, onde convinha que o peixe não cheirasse "a fénico". Não, não era a "alimentação mediterrânica", nos meios industriais e no interior isolado, era a sobrevivência.
Na terra onde nasci, os operários corticeiros, quando adoeciam ou deixavam de trabalhar vinham para a rua pedir esmola (como é que vão fazer agora os desempregados de "longa" duração, ou seja, ao fim de um ano e meio?). Nessa mesma terra deambulavam também pela rua os operários e operárias que o sempre branqueado Alfredo da Silva e seus descendentes punham na rua nos "balões" ("Olha, hoje houve um ' balão' na Cuf, coitados!"). Nesse país, os pobres espreitavam pelos portões da quinta dos Patiño e de outros, para ver "como é que elas iam vestidas".
Nesse país morriam muitos recém-nascidos e muitas mães durante o parto e após o parto. Mas havia a "obra das Mães" e fazia-se anualmente "o berço" nos liceus femininos onde se colocavam camisinhas, casaquinhos e demais enxoval, com laçarotes, tules e rendas e o mais premiado e os outros eram entregues a famílias pobres bem- comportadas (o que incluía, é óbvio, casamento pela Igreja).
Na terra onde nasci e vivi, o hospital estava entregue à Misericórdia. Nesse, como em todos os das Misericórdias, o provedor decidia em absoluto os desígnios do hospital. Era um senhor rural e arcaico, vestido de samarra, evidentemente não médico, que escolhia no catálogo os aparelhos de fisioterapia, contratava as religiosas e os médicos, atendia os pedidos dos administrativos ("Ó senhor provedor, preciso de comprar sapatos para o meu filho"). As pessoas iam à "Caixa", que dependia do regime de trabalho (ainda hoje quase 40 anos depois muitos pensam que é assim), iam aos hospitais e pagavam de acordo com o escalão. E tudo dependia da Assistência. O nome diz tudo. Andavam desdentadas, os abcessos dentários transformavam-se em grandes massas destinadas a operação e a serem focos de septicemia, as listas de cirurgia eram arbitrárias. As enfermarias dos hospitais estavam cheias de doentes com cirroses provocadas por muito vinho e pouca proteína. E generalizadamente o vinho era barato e uma "boa zurrapa".
E todos por todo o lado pediam "um jeitinho", "um empenhozinho", "um padrinho", "depois dou-lhe qualquer coisinha", "olhe que no Natal não me esqueço de si" e procuravam "conhecer lá alguém".
Na província, alguns, poucos, tinham acesso às primeiras letras (e últimas) através de regentes escolares, que elas próprias só tinham a quarta classe. Também na província não havia livrarias (abençoadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian), nem teatro, nem cinema.
Aos meninos e meninas dos poucos liceus (aquilo é que eram elites!) era recomendado não se darem com os das escolas técnicas. E a uma rapariga do liceu caía muito mal namorar alguém dessa outra casta. Para tratar uma mulher havia um léxico hierárquico: você, ó; tiazinha; senhora (Maria); dona; senhora dona e... supremo desígnio - Madame.
Os funcionários públicos eram tratados depreciativamente por "mangas-de-alpaca" porque usavam duas meias mangas com elásticos no punho e no cotovelo a proteger as mangas do casaco.
Eu vivi nesse país e não gostei. E com tudo isto, só falei de pobreza, não falei de ditadura. É que uma casa bem com a outra. A pobreza generalizada e prolongada necessita de ditadura. Seja em África, seja na América Latina dos anos 60 e 70 do século XX, seja na China, seja na Birmânia, seja em Portugal.»
«Assunto: Já vivi nesse país e não gostei. Eu também vivi neste país e subscrevo»
- José Duarte -
JÁ VIVI NESSE PAÍS E NÃO GOSTEI - por Isabel do Carmo (médica)
« O primeiro-ministro anunciou que íamos empobrecer, com aquele desígnio de falar "verdade", que consiste na banalização do mal, para que nos resignemos mais suavemente. Ao lado, uma espécie de contabilista a nível nacional diz-nos, como é hábito nos contabilistas, que as contas são difíceis de perceber, mas que os números são crus. Os agiotas batem à porta e eles afinal até são amigos dos agiotas. Que não tivéssemos caído na asneira de empenhar os brincos, os anéis e as pulseiras para comprar a máquina de lavar alemã. E agora as jóias não valem nada. Mas o vendedor prometeu-nos que... Não interessa.
Vamos empobrecer. Já vivi num país assim. Um país onde os "remediados" só compravam fruta para as crianças e os pomares estavam rodeados de muros encimados por vidros de garrafa partidos, onde as crianças mais pobres se espetavam, se tentassem ir às árvores. Um país onde se ia ao talho comprar um bife que se pedia "mais tenrinho" para os mais pequenos, onde convinha que o peixe não cheirasse "a fénico". Não, não era a "alimentação mediterrânica", nos meios industriais e no interior isolado, era a sobrevivência.
Na terra onde nasci, os operários corticeiros, quando adoeciam ou deixavam de trabalhar vinham para a rua pedir esmola (como é que vão fazer agora os desempregados de "longa" duração, ou seja, ao fim de um ano e meio?). Nessa mesma terra deambulavam também pela rua os operários e operárias que o sempre branqueado Alfredo da Silva e seus descendentes punham na rua nos "balões" ("Olha, hoje houve um ' balão' na Cuf, coitados!"). Nesse país, os pobres espreitavam pelos portões da quinta dos Patiño e de outros, para ver "como é que elas iam vestidas".
Nesse país morriam muitos recém-nascidos e muitas mães durante o parto e após o parto. Mas havia a "obra das Mães" e fazia-se anualmente "o berço" nos liceus femininos onde se colocavam camisinhas, casaquinhos e demais enxoval, com laçarotes, tules e rendas e o mais premiado e os outros eram entregues a famílias pobres bem- comportadas (o que incluía, é óbvio, casamento pela Igreja).
Na terra onde nasci e vivi, o hospital estava entregue à Misericórdia. Nesse, como em todos os das Misericórdias, o provedor decidia em absoluto os desígnios do hospital. Era um senhor rural e arcaico, vestido de samarra, evidentemente não médico, que escolhia no catálogo os aparelhos de fisioterapia, contratava as religiosas e os médicos, atendia os pedidos dos administrativos ("Ó senhor provedor, preciso de comprar sapatos para o meu filho"). As pessoas iam à "Caixa", que dependia do regime de trabalho (ainda hoje quase 40 anos depois muitos pensam que é assim), iam aos hospitais e pagavam de acordo com o escalão. E tudo dependia da Assistência. O nome diz tudo. Andavam desdentadas, os abcessos dentários transformavam-se em grandes massas destinadas a operação e a serem focos de septicemia, as listas de cirurgia eram arbitrárias. As enfermarias dos hospitais estavam cheias de doentes com cirroses provocadas por muito vinho e pouca proteína. E generalizadamente o vinho era barato e uma "boa zurrapa".
E todos por todo o lado pediam "um jeitinho", "um empenhozinho", "um padrinho", "depois dou-lhe qualquer coisinha", "olhe que no Natal não me esqueço de si" e procuravam "conhecer lá alguém".
Na província, alguns, poucos, tinham acesso às primeiras letras (e últimas) através de regentes escolares, que elas próprias só tinham a quarta classe. Também na província não havia livrarias (abençoadas bibliotecas itinerantes da Gulbenkian), nem teatro, nem cinema.
Aos meninos e meninas dos poucos liceus (aquilo é que eram elites!) era recomendado não se darem com os das escolas técnicas. E a uma rapariga do liceu caía muito mal namorar alguém dessa outra casta. Para tratar uma mulher havia um léxico hierárquico: você, ó; tiazinha; senhora (Maria); dona; senhora dona e... supremo desígnio - Madame.
Os funcionários públicos eram tratados depreciativamente por "mangas-de-alpaca" porque usavam duas meias mangas com elásticos no punho e no cotovelo a proteger as mangas do casaco.
Eu vivi nesse país e não gostei. E com tudo isto, só falei de pobreza, não falei de ditadura. É que uma casa bem com a outra. A pobreza generalizada e prolongada necessita de ditadura. Seja em África, seja na América Latina dos anos 60 e 70 do século XX, seja na China, seja na Birmânia, seja em Portugal.»
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Fílmicos IV - Deus existe / Deus já não existe
E é mulher
garbosa,
chama-se greta,
botou
corpinho, esbelto e esguio
aqui, nestas
paragens frias, escândias.
No princípio
era o verbo
de encher
as sagas.
Atravessou
as águas,
multiplicou-se
sereia
sem canto,
encantou
o pai, o filho
e os espíritos ...
Os discípulos
chamam-lhe
plástica
anna
christina
rainha
de amor
karenina
ninotchka
divina.
Os iniciados
invocam os nomes de deus em vão,
lovisa
gustafsson.
O mistério
divino transformou
orquídeas em
beijos,
beijos em camélias,
camélias em
rugas ...
De facto,
deus existe,
ainda,
mas está
velhinha, lá longe,
domingo, 4 de dezembro de 2011
Fílmicos III - Belle de Jour
Bela de Dia
Que à noite
Se transforma
Em dama de jeito
De trazer por casa,
Mas não faz a cama,
Que se arrepia,
É só bela de dia
Quando ouve os guizos
De morte, pintada,
De nova, arredia,
Não dá por nada,
Nem dente nem espada
A atrofia,
Só a noite
E a cama
Da casa, bela moradia,
Mas antes a morte
Que de tal sorte
Ser viva vazia,
De nova,
Aprova
Ser bela de dia.
Que à noite
Se transforma
Em dama de jeito
De trazer por casa,
Mas não faz a cama,
Que se arrepia,
É só bela de dia
Quando ouve os guizos
De morte, pintada,
De nova, arredia,
Não dá por nada,
Nem dente nem espada
A atrofia,
Só a noite
E a cama
Da casa, bela moradia,
Mas antes a morte
Que de tal sorte
Ser viva vazia,
De nova,
Aprova
Ser bela de dia.
© Vítor Reia; Em Cena, nº 8 , Inverno/Primavera 2004, Faro, pg. 86-87, (Ilustração: Marina Palácio, Ed. Paulo Penisga, Ed. Ass. Gabriela Soares)
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