segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

De retorno aos Fílmicos: V - Morte a Venezia



Ando na praia a procurar
Uma outra vida bela e boa,
Vou ao cinema, entro num bar
E vejo a dita sorrir à toa.
Gasto o meu tempo a caminho
Da outra margem para Lisboa,
Volto a casa, entro sozinho
Na minha cama, deito a pessoa.
Falta-me o jeito… falta-me o ar… para procurar.

Uma outra vida, outra garra
De herói galante noutra fita
De amor perdido, o barco amarra
A proa ao cais, cai em desdita.
No escuro a luz vem de mansinho,
Saio para a rua, pessoa aflita,
De volta sei o meu caminho
Para a minha toca hermafrodita.
Noite desdita… dita o olhar… para me encontrar.

De manhã cedo, pausa breve
Num outro cais, num outro bar
Onde a dita vogando serve
Cinemascópio a ver o mar.
Gasto os meus dias em viagem,
Não tenho tempo para viajar,
Morro por fim nesta outra margem,
Pouso os meus restos no vosso altar.
Morro em Veneza… morro ao luar…
À beira-mar ... à beira-bar ... à beira…

© Vítor Reia; Em Cena, nº 9 , Verão 2004, Faro, pgs. 56-57  (Ilustração: Marina Palácio, Ed. Paulo Penisga, Ed. Ass. Gabriela Soares)

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