quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

(8) O Canto do Jim











Já aqui disse que vários dos apóstolos nomeados poderiam ter sido substituídos por outros tantos, alguns já santos e outros nem por isso, provavelmente assim será o caso de outros mais que ainda estão por vir, mas tal não é de modo algum o caso do Jim Morrison,


no apocalipse
agora,
na hora
da vossa,
nossa,
pôssa,
morte,
antes
do horror
do vazio
da palavra,
a música
é o princípio
do fim,
no canto
do jim.

A música dos Doors (que também passava no Em Órbita e de vez em quando, ainda que algo subrepticiamente, na Associação do Técnico enquanto se carregava o projector de 16mm para exibir pela vigésima sexta vez o Couraçado Potenkin) era um sinal de altivez e de ousadia anti-fadista, fosse à Espera do Sol, com o Jim de calças de couro já morto e enterrado, fosse na Cozinha da Alma do album duplo ao vivo, onde vimos as primeiras imagens do rapaz a dar par o gordo e de farta barba a fazer lembrar o Guevara que copiámos, stencilámos e distribuímos à porta do liceu um par de anos antes. O canto do jim haveria de perdurar para além do Pére Lachaise, onde levei os meus filhos em peregrinação vários anos depois de eu ter chorado em pleno ferribote do Porto Brandão para Belém numa manhã de Julho, quando já só restava alguma oral meio macaca para acabar o 7ºano com notas suficientes para dispensar do exame de admissão às engenharias electrotécnicas. O rio, o sol e os gritos de desespero que haveria de repetir até à exaustão no aconchego do quarto de águas furtadas ao som de um gira-discos rafeiro mas pronto para o exorcismo do xamã lagarto, rei dos poetas das rimas de fraca figura e pé quebrado, Baudelaire, Rimbaud, Brecht.... contra tudo o que nos cheirava a bafio e a delicodoce, tipo, diso é que eu gosto, ou quando o telefone toca... oque nós queríamos era O MUNDO, and we want it... NOW, só nos faltava passar para o outro lado, e do outro lado, na outra margem, estava o sol à nossa espera, era só apanhar o barco dos loucos...

1 comentário:

  1. Na cantina de Económicas tambem ouvíamos o Jim e práticamente todo o retábulo, aliás, até posso dizer que fui "vítima" da ditadura (com todo o respeito pelas verdadeiras vítimas)pois no dia que ia inaugurar o meu programa na "Sonora da Associação" a pide fechou(pela enésima vez)a Cantina e "silenciou" a Sonora.Ainda tenho o guião desse 1º programa,algures, mas vou tentar encontrá-lo para o reproduzir aqui.
    Mas o que me deu gozo (agora sobre o Jim)foi a 1ªvez que uma das minhas filhas foi a Paris, viagem de férias, com 16 anos, e me telefonou(ainda não havia tlm)duma cabine, a 1ª "coisa" que tinha ido ver com as(os) amigas(os)tinha sido ir ao Pére Lachaise ver o túmulo do Jim.
    Aí, fiquei descansado !
    Francisco Froes David

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