domingo, 7 de dezembro de 2008

Para não dizer que não falei da avaliação

Dizia o meu amigo e colega Domingos Fernandes, há apenas poucos dias, que avaliar é das coisas mais difíceis de fazer, de implementar, de estruturar, de planificar, de implicar, de aferir, de reavaliar e, sobretudo, de evitar que os processos de avaliação mais problemáticos e eventualmente menos fiáveis, sejam-no lá porque razão for, venham a marcar para todo o sempre as carreiras e as vidas dos avaliados. E dizia ele: «isto é assim para os professores e é assim para os alunos». Ou será que a avaliação só é problemática e eventualmente menos fiável quando se aplica aqueles que têm voz organizada através dos sindicatos, das pró-ordens, ou de outras associações e plataformas de intervenção pública que lhes amplificam as preocupações, eventualmente legítimas?
Aliás, legítimas seguramente, porque como já se disse, isto da avaliação é mesmo coisa muito séria, fartinha de ser estudada, investigada, depurada, reformulada, redimensionada, enfim reinventada, mas sem grande sucesso, convenhamos, pelo menos aqui neste luso-quintal em que nos alcovitamos. Não fora esse falhanço e já teríamos certamente corrigido, como resultado de alguma avaliação mais séria, rigorosa e sistemática, alguns erros de base que nos colocam nos níveis europeus mais baixos das diferentes literacias que se pensa de algum modo poder medir ou comparar, ou seja avaliar.
E aos alunos que todos os períodos, semestres e anos descambam para fora do sistema educativo, vítimas dessa mesma complexidade avaliativa que não se compadece com os seus problemas individuais, sociais, culturais ou cognitivos, nem com a falta de tempo, de paciência ou de competência dos seus professores para os enfrentar, a esses alunos quem é que lhes amplifica as preocupações quando não encontram emprego digno ou quando chegam ao ensino superior (último reduto de estacionamento estudantil e barbitúrico colectivo para o estado geral de desemprego em antevisão) sem saber escrever fluentemente pelo menos numa língua, sem conseguir dominar algumas operações fundamentais de cálculo quotidiano, sem ler o que quer que seja com mais de 2 parágrafos seguidos que não trate de bola e, sobretudo, sem bases nem cultura de questionário, de reflexão, de análise, de síntese, nem, muito menos, de crítica fundamentada? Quem? As associações de pais? Que durante tanto tempo foram vistas como empecilho necessário para dar um ar de modernidade, mas a evitar por todos os meios possíveis e imaginários que metessem o bedelho nos redutos sigilosos das escolas, (claro, os níveis de literacia da população em geral não são alheios a essas associações, logo…)? A Tutela? Ou seja o Ministério que agora está na mira de quase todas as espingardas, mesmo as mais arrivistas? Nem a brincar aos «Magalhães» a Tutela é capaz de identificar os problemas do sistema que gerou e que mantem, quanto mais a dar voz aos famélicos da educação, vítimas dos telemóveis, dos impropérios dos media e de outras diatribes consumistas, mas formadoras, de pé nas carteiras quando deveriam estar sentados a ouvir coisas que a maior parte das vezes não lhes dizem respeito porque não têm quaisquer condições de as assimilar, nem os professores de as avaliar, quais flores de estufa desconexa e desconchavada ao suposto abrigo das intempéries educacionais. Então…?
Pois eu também não sei, aliás, cada vez mais só sei que nada sei, como dizia o outro. Mas, aparentemente, as tutelas e as corporações das esferas educativas parecem saber, uma vez que sempre que abrem a boca é para reafirmar a pés juntos que dali não saem, dali ninguém os tira. Já vi chegar ditaduras ao poder (várias infelizmente) por caminhos falaciosos menos convictos. E a educação, ou antes a falta dela, é meio caminho andado para da dita-mole se chegar à dita-dura (aliás, já alguém se perguntou o que faz uma coisa chamada Inspecção Escolar – só o nome…, bem, provavelmente é uma espécie de ASAE das escolas, até melhor informação – Inspecta? Inspecta o quê? E quem? E porquê? E com que efeito? Então e não avalia…?
Olhem, depois não digam que não falei das flores.
(E já agora podem sempre ver e ouvir o comentário do JMF do Público, que dá uma no cravo e outra na ferradura, mas verdade se diga , que em matéria de avaliação, é muito difícil não dar).

4 comentários:

  1. Então e o cravo não é uma flor?

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  2. O cravo é, mas o José Manuel Fernandes deve ser alérgico e o Público não é sempre a estufa de cheiro que se supõe.

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  3. avaliar os outros é bom ser avaliado é mau, avaliar é impossível quando não gostamos dela, avaliar é perfeitíssima quando ela atinge os nossos objectivos, andamos todos a ser avaliados constantemente e parece que poucos dão por isso, passamos anos e anos nas escolas a sermos avaliados e lá vamos cantando e rindo, cavalos a avaliar burros, burros a avaliar génios, isto é tudo muito difícil por que só os génios do poder sabem o que estão a fazer, e depois temos também que avaliar os génios do poder, cá para mim é muito fácil, é só por a cruzinha noutro sítio, e ficamos contentes e satisfeitos porque vivemos numa democracia, que bom...

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  4. Olá Zé Fz (?, tenho cá as minhas dúvidas sobre de que vizinho se trata, mas talvez seja o ...)
    Pois, cantando e rindo faziam-se e fazem ainda muitas traulitices badalhoqueiras com ar de coisa séria um pouco por todo o lado, porque isto de vender gato por lebre sempre dá para enganar alguns mais incautos, O problema é que são sempre os mais fracos a sofrer as piores consequências e neste caso, os mais fracos nem sempre são os professores..., inté.

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