sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O Amor ainda é... mas já não é...


Outra manhã de ouvido no rádio, olho na 125 e mãos no volante (isto até dava quase para cantar os Doors em fundo) e fico preso no tom algo frio das actuais palavras do «Amor é…», sobretudo na neutralidade enfática de Inês Meneses a dizer que «não gosta da palavra lésbica» preferindo homossexual, para logo Júlio Machado Vaz explanar em tom sério as suas deixas até ao momento quase final em que explica, lexical e prof. qb, que a palavra lésbica vem da ilha de Lesbos, antevendo eu no seu tom de voz a remota possibilidade de alguma piada mais brejeira a lembrar os primeiros tempos do programa, mas à qual o afiado profissionalismo de Inês Meneses corta todas as vasas. Fico então nostálgico daquele tom de flirt suavemente picante entre o professor (embora nunca como tal designado) vivido, de bom recorte retórico e a sua interlocutora chique, jovial, loura por certo, mas bastante segura no fraseado solto e elegante de Ana Mesquita. E pensei, cá se fazem, cá se pagam! Pois ele houve lá alguma outra maldadezinha radiofónica mais cruel do que a que fizeram ao bom do António Macedo quando o substituíram na troca de argumentos com o Professor (aqui com P grande) pela bela Ana? Aquilo é que eram grandes trocas de piropos, «Ò Professor isto e Professor aquilo» interrompia Macedo com o seu vozeirão de barítono à café, «Ó António, não me chame professor, olhe que eu zango-me» ameaçava Vaz com convicção moderada, e de duas em duas frases de Professor, o António dava grandes gargalhadas, completamente boçais e a resvalar imprudentemente para algum machismo-portuga-tipo-manel-cheio-de-graça-que-também-faz-falta-porque-tristezas-não-pagam-dívidas, mas extraordinariamente contagiantes e indutoras de um magnífico espírito de libertação dos humores e dos amores, já para não falar no verdadeiro seguro de vida anti-cardíaco-matinal que difundiam pelo bom povo português a começar, seguramente, pelo impagável Animador do éter público, sendo que o Professor também amealhava, certamente, alguma apólicezita anti-qualquer coisa.
Ok, fica aqui o agradecimento público pelo bom serviço prestado às causas e às coisas que são o amor. Mas eu gostava mais do outro formato, com o Professor à António e o Macedo à Professor under cover, embora a Mesquita também não estivesse mal na maior parte das vezes. São gostos, eu sei e gostos não se discutem, mas isto, agora, às vezes fica mesmo muito profissional, muito clínico e muito radiofónico à séria. Já agora, sabem que os habitantes de Lesbos (que se transformou numa autêntica Meca para mulheres homossexuais) puseram uma acção em tribunal para garantir que só os habitantes e os naturais de Lesbos possam utilizar a designação de Lesbians? Eu acho que não vão ganhar, mas talvez possam recorrer para algum tribunal português… e, pelo menos, podem ir empatando.

1 comentário:

  1. Claro que esta menina não tem graça nenhuma.Como o meu percurso até à Penha é mais curto, já nem faço força (ou travo) para os ouvir.Imaginei a Ana Mesquita, (picante,principalmente na dicção e riso)mas quando a vi nos programas de Serralves,(tambem com o Júlio)confirmei o porquê de gostar de os (a) ouvir.
    Daí...o Amor já não é !

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