Outra manhã de ouvido no rádio, olho na 125 e mãos no volante (isto até dava quase para cantar os Doors em fundo) e fico preso no tom algo frio das actuais palavras do «Amor é…», sobretudo na neutralidade enfática de Inês Meneses a dizer que «não gosta da palavra lésbica» preferindo homossexual, para logo Júlio Machado Vaz explanar em tom sério as suas deixas até ao momento quase final em que explica, lexical e prof. qb, que a palavra lésbica vem da ilha de Lesbos, antevendo eu no seu tom de voz a remota possibilidade de alguma piada mais brejeira a lembrar os primeiros tempos do programa, mas à qual o afiado profissionalismo de Inês Meneses corta todas as vasas. Fico então nostálgico daquele tom de flirt suavemente picante entre o professor (embora nunca como tal designado) vivido, de bom recorte retórico e a sua interlocutora chique, jovial, loura por certo, mas bastante segura no fraseado solto e elegante de Ana Mesquita. E pensei, cá se fazem, cá se pagam! Pois ele houve lá alguma outra maldadezinha radiofónica mais cruel do que a que fizeram ao bom do António Macedo quando o substituíram na troca de argumentos com o Professor (aqui com P grande) pela bela Ana? Aquilo é que eram grandes trocas de piropos, «Ò Professor isto e Professor aquilo» interrompia Macedo com o seu vozeirão de barítono à café, «Ó António, não me chame professor, olhe que eu zango-me» ameaçava Vaz com convicção moderada, e de duas em duas frases de Professor, o António dava grandes gargalhadas, completamente boçais e a resvalar imprudentemente para algum machismo-portuga-tipo-manel-cheio-de-graça-que-também-faz-falta-porque-tristezas-não-pagam-dívidas, mas extraordinariamente contagiantes e indutoras de um magnífico espírito de libertação dos humores e dos amores, já para não falar no verdadeiro seguro de vida anti-cardíaco-matinal que difundiam pelo bom povo português a começar, seguramente, pelo impagável Animador do éter público, sendo que o Professor também amealhava, certamente, alguma apólicezita anti-qualquer coisa.
Ok, fica aqui o agradecimento público pelo bom serviço prestado às causas e às coisas que são o amor. Mas eu gostava mais do outro formato, com o Professor à António e o Macedo à Professor under cover, embora a Mesquita também não estivesse mal na maior parte das vezes. São gostos, eu sei e gostos não se discutem, mas isto, agora, às vezes fica mesmo muito profissional, muito clínico e muito radiofónico à séria. Já agora, sabem que os habitantes de Lesbos (que se transformou numa autêntica Meca para mulheres homossexuais) puseram uma acção em tribunal para garantir que só os habitantes e os naturais de Lesbos possam utilizar a designação de Lesbians? Eu acho que não vão ganhar, mas talvez possam recorrer para algum tribunal português… e, pelo menos, podem ir empatando.
Claro que esta menina não tem graça nenhuma.Como o meu percurso até à Penha é mais curto, já nem faço força (ou travo) para os ouvir.Imaginei a Ana Mesquita, (picante,principalmente na dicção e riso)mas quando a vi nos programas de Serralves,(tambem com o Júlio)confirmei o porquê de gostar de os (a) ouvir.
ResponderEliminarDaí...o Amor já não é !